Abstract

Apresentamos o caso de uma mulher de 88 anos, grau 5 na escala de Rankin modificada, com antecedentes pessoais de demência vascular. Cronicamente medicada com quetiapina, trazodona, lorazepam e ciamemazina. Apresenta-se no Serviço de Urgência por clínica compatível com infecção do trato urinário. Ao exame objectivo, constatada alteração da coloração do dorso da língua e a presença de papilas filiformes de coloração negra e acastanhada predominantemente na região pré-sulcal (Figura 1). Trata-se de um caso de Língua villosa nigra, também conhecida como Língua pilosa negra, uma entidade clínica benigna, com prevalência estimada entre os 0,6 e 11,3%. O diagnóstico é essencialmente clínico, através do exame da cavidade oral e história clínica detalhada. É frequentemente assintomática, mas pode acompanhar-se de disgeusia, náuseas e halitose e provoca habitualmente preocupações estéticas. 1 A etiologia não está ainda totalmente esclarecida mas será seguramente multifactorial, sendo conhecida a sua associação com o uso de psicotrópicos, antibióticos, tabaco e álcool, assim como desidratação e maus cuidados de higiene oral.2,3 Do ponto de vista patofisiológico observa-se hipertrofia reactiva e alteração da descamação das papilas do dorso da língua, com consequente acumulação de resíduos e microorganismos. O tratamento consiste na correção dos desencandeantes identificados, na optimização da higiene oral e na promoção da descamação da língua através de métodos físicos, como a escovagem, sendo também possível a utilização de agentes químicos como retinóides ou ácido salicílico.2,4 No caso clínico apresentado, foi institituída antibioterapia empirica para tratamento da infecção do trato urinário, ajustada a medicação psicotrópica e reforçados cuidados de higiene oral. A doente evoluiu favoravelmente.

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