Abstract

A Pneumonia Criptogénica Organizante (COP) é uma doença pulmonar intersticial difusa, que afecta bronquíolos distais, ductos alveolares e parede alveolar, com produção intraluminal excessiva de tecido de conjuntivo. (1) Num estudo recente no qual se observou a incidência do sinal do alvo invertido nas diferentes doenças pulmonares e a sua correspondência patológica concluiu-se que este sinal é relativamente inespecífico, podendo ser observado em várias doenças pulmonares, (2) demonstrando a importância da biópsia no diagnóstico destas patologias.
Apesar de vários agentes infecciosos e não infecciosos terem sido implicados como seus possíveis precipitantes, a ocorrência simultânea de COP e vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) tem sido raramente descrita.(1)
Com o avanço na terapêutica antiretroviral (TARV) o espectro das doenças pulmonares alterou-se, com patologias como doença pulmonar obstrutiva crónica, hipertensão pulmonar e neoplasia do pulmão a tornar-se mais importantes na população actual infectada por VIH. Apesar da diminuição da incidência de doenças infecciosas, as alterações imagiológicas nos doentes com infecção por VIH mantêm-se comuns, nomeadamente enfisema, nódulos e bronquiectasias. A idade e a exposição ao tabaco foram preditores significativos de anomalias radiológicas, ao contrário dos factores associados à infecção por VIH como a contagem de CD4+ e a carga viral. (3)
A COP é uma entidade potencialmente tratável, mas muitas vezes sub-diagnosticada, que deve ser considerada em pneumonias que não respondem ao tratamento.(4)

Os autores apresentam o caso de um homem de 50 anos, técnico auxiliar de acção médica, com diagnóstico e terapêutica recente de infecção por VIH (98 CD4+, carga viral de 197386 cópias/mL) e antecedentes de doença pulmonar crónica tabágica (50 UMAs) e toxicodependência activa – cannabis e heroína inalada. Sem outras patologias conhecidas ou história epidemiológica de relevo. Admitido em internamento por pneumonia extensa em doente imunocomprometido. Na radiografia do tórax observavam-se infiltrados nodulares bilaterais extensos, pelo que realizou TC do tórax compatível com “consolidações parenquimatosas multifocais englobando todos os lobos, com imagens gasosas dispersas mas sem segura cavitação, com padrão confluente em ambas as bases associado a áreas de densificação em vidro despolido, espessamento reticular e parietal brônquico, aspectos de natureza indeterminada, admitindo-se etiologia infeciosa ou pneumopatia intersticial. Iniciou empiricamente antibioterapia de alto espectro e doses terapêuticas de fluconazol e cotrimoxazol, sem melhoria clínica, analítica ou imagiológica. Fez broncofibroscopia com lavado bronco-alveolar cujo exame bacteriológico, micológico, pesquisa de BAAR e pneumocystis jiroveci foi negativo. Hemoculturas negativas. Dada manutenção do quadro clínico repetiu TC que demonstrou: “No parênquima pulmonar observam-se múltiplos focos de condensação alveolar, com distribuição multi-focal e bilateral, de predomínio peri-brônquico, com agravamento (…). Algumas destas lesões configuram sinal do alvo invertido (sinal do atol) sendo sugestivas de COP. Face à hipótese colocada foi iniciada corticoterapia sistémica com prednisolona 40mg/dia, com franca melhoria, tendo alta para a consulta externa.


Bibliografia:

1- Sheikh IA, Saadia N, Sheikh N, Culpepper-Morgan JA. “Simultaneous diagnosis of cryptogenic organizing pneumonia and HIV in a 45 year old man”. Am J Case Rep. 2012;13:166-8

2- Zhan X, Zhang L, Wang Z, Jin M, Liu M, Tong Z. “Reversed Halo Sign: Presents in Different Pulmonary Diseases.” PLoS One. 2015 Jun 17;10(6):e0128153

3- Clause E, Wittman C, Gingo M, Fernainy K, Fuhrman C, Kessinger C, Weinman R, McMahon D, Leader J, Morris A. “ Chest computed tomography findings in HIV-infected individuals in the era of antiretroviral therapy”. PLoS ONE 9(11): e112237. Nov 2014

4- Felipe Olivares A., Alberto Fica C., Paulo Charpentier V.a, Antonio Hernández M., María Eugenia Manríquez A., Marcelo Castro S.” Cryptogenic organizing non-resolving pneumonia. Report of one case”. Rev. méd. Chile vol.142 no.2 Santiago Feb. 2014

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